16 de maio de 2017

Resenha - Auto da Barca do Inferno




Titulo: Auto da Barca do Inferno
Autor: Gil Vicente
Editora: FTD
Nº de paginas: 71

'Auto da Barca do Inferno', ou a primeira barca, é certamente a peça mais conhecida de Gil Vicente, encontrando o maior número de impressões avulsas antes e depois da Compilação. É o primeiro membro da trilogia das barcas. Trata-se de uma representação alegórica, ou uma prefiguração do destino das almas com seus respectivos arrais, um Anjo e um Diabo, que acusam os vícios e faltas cometidos em vida dos personagens, a fim de ensinar aos vivos os perigos e enganos da vida transitória.


Olá amigos leitores!
Hoje venho falar de uma obra do gênero dramático, “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente.
A palavra drama vem do grego e significa ação, logo o texto dramático tem a sua representação por meio da encenação de atores.
Como trabalho com teatro tenho o costume de ler obras desse gênero, porém esse em específico, foi uma leitura solicitada na disciplina de Literatura Portuguesa do meu curso de Letras.
Gente... terminei essa leitura ontem e confesso que ainda estou digerindo a história.
Sinto que terei que reler esse livro pelo menos umas três vezes para conseguir captar e compreender a maior parte das metáforas e sátiras presentes no texto.
Como diriam... “tamanho não é documento”... livro curtinho, mas de tamanha complexidade.
Além disso o texto é escrito em português de Portugal e com uma linguagem bem rebuscada (pelo menos a edição que li era assim)... então né... o desafio é o que nos move companheiros ;)
Apesar disso, muitos dos assuntos abordados na trama são pertinentes até os dias de hoje.
A obra é de 1517 e faz parte da chamada trilogia das Barcas (sendo que a segunda e a terceira são respetivamente o Auto da Barca do Purgatório e o Auto da Barca da Glória.
Resumindo temos em cena duas barcas: uma que leva seus passageiros a Glória e outra que leva seus (infelizes) passageiros ao mármore do Inferno rsrsrsrsrsrs.
Sendo assim, temos duas personagens protagonistas que comandam tais barcas: o Anjo e o Diabo. Aos poucos vão aparecendo várias outras personagens, geralmente citadas pelos seus ofícios ou características marcantes (personagens-tipo), e não pelos seus nomes. Daí já começam a surgir as primeiras críticas ao modo de agir e viver da sociedade de Lisboa nas primeiras décadas do século XVI. O autor demonstra uma influência marcante da corrupção na sociedade em geral.
Temos como exemplo de personagens o fidalgo (D. Anrique), onzeneiro (agiota), parvo (pessoa humilde e simples), sapateiro, frade, alcoviteira (cafetina), judeu, corregedor (magistrado que representava a Coroa nas comarcas de Portugal), enforcado entre outros.

“FIDALGO: 
Para o Inferno, então! 
O inferno será para mim? 
Oh triste! Enquanto vivi 
Não pensei que seria: 
Pensei que era fantasia! 
Pensava ser adorado, 
Confiei no meu estado 
E não vi que me perdia. 
Venha essa prancha! 
Veremos esta barca de tristura. (tristeza) 
DIABO: 
Embarque vossa doçura, 
Que cá nos entenderemos... 
Tomareis um par de remos, 
Veremos como remais, 
E, chegando ao nosso cais, 
Verá como bem vos serviremos.”

Um a um vai surgindo em cena e tendo sua alma julgada, para que se determine dessa forma em qual barca cada um deve adentrar.
O Anjo sempre muito justo e severo, enquanto o Diabo se mostra bem-humorado e irônico.
Mas quem vocês acham que se deu melhor no final das contas, hein???
E se esse julgamento, se fosse nos dias atuais e em nossa sociedade... quem riria por último... o Anjo ou o Cão de Zorba????
Eu acho que já tenho uma resposta... infelizmente...

Para quem se interessar o texto está disponível no site: www.dominiopublico.gov.br

Com certeza foi uma leitura diferente da convencional e que me desafiou mentalmente... tive que me esforçar para entender, ler e reler determinados trechos, mas ao seu término com certeza foi grandemente enriquecedora para mim...
É assim que vamos amadurecendo nossas leituras... às vezes temos que dar chance para obras que nos provoquem... entendem?
Sair do comodismo e descobrir novos caminhos, enredos, formas e gêneros. Nem que seja para descobrir que odeia algum deles, kkkkk, mas pelo menos vai ser um ódio fundamentado, não é mesmo???!!!

Beijos Literários


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