16 de março de 2016

O que se diz e o que se entende | Global Editora

Não creia em teus olhos
Autora: Cecília Meireles

“Dizem-me que mais de metade da humanidade se dedica à prática dessa arte; mas eu, que apenas recente e provisoriamente a estou experimentando, discordo um pouco da afirmativa. Não existe tal quantidade de gente completamente inativa: o que acontece é estar essa gente interessada em atividades exclusivamente pessoais, sem consequências úteis para o resto do mundo. [...]

Há homens longamente parados a olhar os patos na água. Esses, dir-se-ia que não fazem mesmo absolutamente nada: chapeuzinho de palha, cigarro na boca, ali se deixam ficar, como sem passado nem futuro, unicamente reduzidos àquela contemplação. Mas quem sabe a lição que estão recebendo dos patos, desse viver anfíbio, desse destino de navegar com remos próprios, dessa obediência de seguirem todos juntos, enfileirados, clã obediente, para a noite que conhecem, no pequeno bosque arredondado? Pode ser um grande trabalho interior, o desses homens simples, aparentemente desocupados, à beira de um lago tranquilo. De muitas experiências contemplativas se constrói sabedoria, como a poesia. E não sabemos – nem eles mesmos sabem – se este homem não vai aplicar um dia o que neste momento aprende, calado e quieto, como se não tivesse fazendo nada.
Não, não; estou desconfiadíssima de que a arte de não fazer nada não existe.” [...]

O trecho acima faz parte do texto “A arte de fazer nada”, uma das crônicas escolhidas por Cecília Meireles para compor este O que se diz e o que se entende (Global Editora, R$ 45, 168 páginas). Se fosse possível sintetizar, em uma frase, uma definição única para esta obra, arriscaríamos dizer que seria “Não creia em teus olhos” (título de uma das crônicas desta obra). Cecília, por meio do seu olhar sempre cuidadoso, carinhoso e apaixonado pelos seres humanos, escreve o que contempla com respeito, sem julgamentos prévios.


A novidade desta segunda edição é a apresentação escrita por Ignácio de Loyola Brandão, contista, romancista e jornalista brasileiro. Convidado para escrever um curto ensaio sobre a poeta e esta obra, Loyola decidiu realizar algo mais pessoal. Conta qual foi a primeira obra de Cecília que leu, e quando e como se deu esse encantamento por sua obra. E, por meio de trechos de uma entrevista feita por Pedro Bloch, também autor e cronista, para a revista Manchete em 1964, trilha toda a importância e magnitude da nossa poeta maior, sugerindo, inclusive, que o mundo seria melhor se fosse inteiramente narrado por ela.

Título: O que se diz e o que se entende
Autora: Cecília Meireles
Apresentação: Ignácio de Loyola Brandão
Coordenação Editorial: André Seffrin
Editora: Global Editora
Páginas: 168
Largura x lombada x altura: 16 x 1,0 x 23 cm
Capa: 4 x 4 cores
Peso: 260 kg
Encadernação: Brochura costurada
Preço: R$ 45,00
ISBN: 978-85-260-2216-4
EAN: 9788526022164
Lançamento: Março de 2016
Ano de publicação desta edição: 2016
Origem: Nacional
Idioma: Português
Edição: 2ª edição
Gênero: Crônicas


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